
Para o médico-veterinário cirurgião, Rafael Carvalho, a videocirurgia é uma técnica que faz parte da evolução da medicina veterinária e precisa ser melhor entendida e difundida entre a própria classe
Por Mariana Perez, da redação
Entusiasta da videocirurgia, o médico-veterinário Rafael Carvalho (Na foto abaixo), do Rio de Janeiro (RJ), faz parte de uma geração de profissionais que compartilha conhecimento, desbrava novos caminhos e busca a evolução da medicina veterinária e, consequentemente, sua valorização. Rafael compartilha conosco nessa reportagem sua trajetória na área e destaca os benefícios da videocirurgia para a medicina veterinária. Atualmente Rafael, se dedica ao centro cirúrgico no hospital veterinário DOK (Rio de Janeiro/RJ), trabalha como cirurgião volante, é coordenador e professor dos cursos do Centro de Desenvolvimento da Medicina Veterinária (CDMV), e está desenvolvendo um projeto para oferecer o serviço de videocirurgia no hospital veterinário Pet Care Animalia.
Rafael Carvalho, médico-veterinário do Rio de Janeiro (RJ), especializado em videocirurgia
Carreira que começou na graduação
Essa rotina agitada de Rafael começou na graduação. “Uma coisa que aprendi durante a graduação é que as oportunidades aparecem e temos que abraçar”, destaca Rafael.
A cirurgia é uma área que sempre chamou a atenção de Rafael, começando pela sua mãe que é instrumentadora cirúrgica. Contudo, no início da graduação de medicina veterinária, ele ainda não sabia bem qual função gostaria de desempenhar. “Quando entrei na faculdade eu tinha um nome referência como veterinário e era na área de anestesia. Sempre tive um interesse pela área de cirurgia, só não sabia de fato como era trabalhar com cirurgia e o centro cirúrgico”, recorda.
Rafael Carvalho, médico-veterinário cirurgião
A partir do quinto período da faculdade, Rafael começou a acompanhar mais de perto a área de cirurgia. “Minha carreira foi sendo construída desde a graduação. Eu sempre falo da importância disso para os meus alunos. Muitos fazem a faculdade e só no final começam a realmente entrar no mercado de trabalho. Meu primeiro estágio foi na área de felinos com a doutora Heloisa Justen onde pude participar de uma cirurgia. Depois fiz estágio com o médico-veterinário cirurgião Matheus Bahia, na CMDV Clínica, hoje DOK. Todo esse percurso foi me preparando para a residência que era o meu foco principal”, conta.
Nesse período que estava finalizando a faculdade e buscando uma residência, Rafael recebeu uma proposta de fazer parte de um projeto de trainee no hospital veterinário DOK. “O trainee é como se fosse uma residência, porém dentro de uma empresa privada. No Rio de Janeiro não há muitas empresas que fazem, em São Paulo já há algumas. Como era um projeto novo eu fiquei na dúvida, mas resolvi aceitar, pois além de aprender e colocar em prática o que eu tinha aprendido, era uma oportunidade de trabalhar em uma grande empresa. Foram dois anos de trainee focado em cirurgia geral, principalmente tecidos moles. Nesse período também participei de um projeto chamado DOK do Bem com ONGs para fazer castrações”.
"Minha carreira foi sendo construída desde a graduação”.
Ao lado de seu mentor de trainee Matheus Bahia, Rafael então começou um projeto focado na videocirurgia. “’Começamos a oferecer esse serviço no hospital veterinário para os tutores que hoje tem o animal de estimação como filho. Eu e o Matheus entramos nesse projeto, fizemos cursos de aprimoramento em videocirurgia em Santa Maria (RS) com o professor Mauricio Veloso Brun, que é uma referência quando falamos em videocirurgia na medicina veterinária. Após muito preparo, começamos a oferecer como uma possibilidade para castração nos serviços DOK. Antes da cirurgia sempre explicamos para o tutor como será o procedimento e os benefícios de uma videocirurgia, que é menos invasiva, a recuperação mais rápida, menos uso de medicamentos. Começamos a observar que o feedback era bastante positivo. Hoje fazemos o inverso, quando falamos em castração, a videocirurgia é a primeira opção a ser colocada”.
No primeiro momento, Rafael conta que sentiu certa resistência da própria classe veterinária. “Nos perguntavam por que investir tanto para poder fazer a mesma cirurgia como a castração, por exemplo”. Contudo, o projeto segue em frente e Rafael, apesar de formado e ser professor com muita experiência na bagagem, não para de estudar, vive em constante aprimoramento e se prepara para iniciar um mestrado. “Há muito o que aprender, há muitas coisas que ainda estão sendo desenvolvidas com relação à videocirurgia. A ideia é difundir cada vez mais a técnica. Muitos veterinários comentam que a videocirurgia é o futuro, mas eu gosto de dizer que ela é o presente, o futuro talvez seja a cirurgia robótica. A videocirurgia é uma realidade e já acontece em vários estados brasileiros”.
Apesar de ser uma realidade possível, de acordo com Rafael, a videocirurgia precisa ser melhor entendida pelos próprios médicos--veterinários para que possam indicar e oferecer como opção aos tutores. “Com a videocirurgia existem possibilidades não só para tratamentos cirúrgicos, mas de realizar diagnósticos como, por exemplo, biópsias hepáticas, entres outros. Além disso, é possível realizar procedimentos associados, por exemplo, em casos quando o endoscópio não consegue apreender um corpo estranho, pode ser associado a videocirurgia sem precisar abrir o paciente”.
Por outro lado, Rafael comenta que há muitos tutores que procuram essa técnica, pois já passaram por algum procedimento na medicina e perguntam se há como fazer na medicina veterinária para seu animal.
Outro ponto que Rafael avalia é que, no Brasil, costuma-se seguir muitas referências norte-americanas, como os guidelines. Porém, a técnica de videocirurgia é muito mais difundida na Europa. “Acredito que o delay de conhecer e se profundar um pouco mais sobre a técnica seja por conta disso também. Muitos artigos relacionados a técnica são europeus e há diferença até mesmo com relação a técnica, como a castração de fêmeas, por exemplo, eles costumam fazer a ovariectomia, que é a retirada só do ovário. Eles entendem que não têm necessidade de manipular muitas vísceras e de fazer um dano maior, tendo assim menor tempo de recuperação e mais qualidade para o paciente”.
"É preciso inserir mais o assunto na linha de estudo da medicina veterinária”.
Além disso, para Rafael, faltam cursos na área de videocirurgia e de técnicas minimamente invasivas no Brasil. “Quanto maior a quantidade de cursos, mais acessível fica para todos. Por isso é preciso inserir mais o assunto na linha de estudo da medicina veterinária, seja na graduação, em cursos de pós-graduação etc. Há muitos que se formam todos os anos e poucos estão capacitados para realizar a técnica”.
O custo dos equipamentos também é uma questão importante na medicina veterinária e pode acabar sendo um obstáculo para muitos. “A técnica de vídeo depende de materiais caros como das pinças laparoscópicas, ótica, e em média, para se começar um serviço com equipamentos usados é preciso investir 100 mil Reais. Diferente do hospital da medicina que já oferece ao médico essa possibilidade com toda a estrutura pronta, na medicina veterinária normalmente o cirurgião é volante e precisa investir no equipamento. Então, além de investir no seu próprio conhecimento, precisa investir também nos equipamentos e na segurança daquele equipamento no caso dos volantes”, explica Rafael.
Contudo, apesar de todos esses obstáculos, ele acredita que quanto mais a técnica for difundida para que, tanto veterinários quanto tutores entendam seus benefícios, os custos tendem a cair para todos e, assim, a medicina veterinária evolui. “Os pets hoje são criados como filhos em muitos lares brasileiros e os tutores buscam cada vez mais o melhor para eles. Eu mesmo, sou veterinário dentro do hospital, mas em casa sou pai de pet. Quando há emergência com meus gatos, busco o atendimento dos colegas e fico apreensivo, mesmo sendo veterinário e quero tudo que há de melhor para eles. Há 15 anos quando iriamos imaginar que as pessoas procurariam um nutrólogo para uma alimentação mais saudável ou uma sessão de fisioterapia para seus animais? A videocirurgia faz parte dessa evolução”.
Rafael ressalta ainda que, infelizmente, há muitos médicos-veterinários em diversas áreas que travam o conhecimento. “E o que eu quero é totalmente ao contrário. Quero mais é que as pessoas conheçam a videocirurgia, que invistam e que vejam que não é algo que meia dúzia de pessoas tentaram um dia e não deu certo. Não vejo sentido travar conhecimento que deve ser compartilhado. Durante a graduação nunca passou pela minha cabeça dar aula e hoje fazer cirurgia e dar aulas são coisas que eu quero fazer para o resto da vida. É muito gratificante acompanhar e fazer parte da evolução e direcionamento dos alunos, assim como muitos professores foram para mim um dia”, conclui.
Para o médico-veterinário cirurgião, Rafael Carvalho, a videocirurgia é uma técnica que faz parte da evolução da medicina veterinária e precisa ser melhor entendida e difundida entre a própria classe