
Saber usar esse recurso está transformando a vida de muitos médicos-veterinários e a dinâmica na rotina.
A telemedicina surge como uma aliada para os médicos-veterinários que buscam otimizar sua rotina e ampliar sua forma de atendimento.
Imagem: Canva
Reportagem de Mariana Perez, jornalista
A telemedicina na veterinária é uma grande oportunidade para muitos médicos-veterinários, seja para ampliar o atendimento, fazer conexões com outros profissionais, melhorar a administração do tempo na rotina, além é claro, dos benefícios financeiros.
A pandemia fez com que a utilização desse recurso fosse mais que necessária e fez com que o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) estabelecesse diretrizes para o uso da telemedicina veterinária nas atividades médico-veterinárias, em resolução publicada no Diário Oficial da União, no dia 29 de junho de 2023, Resolução nº 1.465/2022. Essa resolução autoriza médicos-veterinários registrados no CFMV/CRMVs e pessoas jurídicas com Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) a praticar a telemedicina veterinária.
O atendimento presencial continua sendo padrão ouro na medicina veterinária, contudo a telemedicina pode contribuir em muitos aspectos quando bem utilizada.
A médica-veterinária Carolina Sant’anna, formada há 18 anos e especializada em nutrição, do Rio de Janeiro (RJ), sabe bem disso e é veterana quando o assunto é telemedicina. Ela conta que, antes da pandemia, já utilizava recursos virtuais (os permitidos na época) em sua rotina, divulgava para suas alunas de nutrição e via o grande potencial. “Meu público é na grande maioria mulheres, e eu vi que ao ensinar sobre a as ferramentas on-line ajudava muitas delas, principalmente, na gestação e amamentação, período em que fisicamente a mulher fica mais limitada”.
Carolina Sant’anna, médica-veterinária, especializada em nutrição e telemedicina e membro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ).
Crédito foto: arquivo pessoal
Após passar por um sério problema pessoal durante a pandemia e perder sua antiga conta no Instagram onde divulgava seu curso de nutrição e seu trabalho, Carolina teve que iniciar do zero, mas não deixou se abater. E foi a telemedicina que encontrou como aliada. Carolina percebeu o quanto a telemedicina poderia ajudar também outros médicos-veterinários a sair de plantões intermináveis e mal remunerados, a levar sua especialidade a locais com poucos veterinários e atender pacientes até mesmo de outros países.
Atualmente Carolina ministra um curso on-line de imersão em telemedicina para veterinários. “No curso destaco o que é preciso seguir no que diz respeito às regras estabelecidas pelo CFMV, mas também mostro como divulgar o próprio trabalho, como utilizar o tráfego pago, como fazer e-books com inteligência artificial, mostro as diferentes possibilidades como, por exemplo, ministrar cursos de orientação para tutores. O objetivo é mostrar para esses veterinários que as possibilidades dentro das regras e das leis na profissão são muito maiores do que pensamos. Há muita concorrência, mas se ele fizer um serviço diferenciado, vai se destacar. Muitos dos alunos que vieram fazer o curso de telemedicina estavam a ponto de largar a medicina veterinária”, destaca.
Na avaliação de Carolina, a telemedicina é um mercado gigante que o veterinário ainda não aprendeu a explorar. “É outro universo e ficamos presos apenas a clínica e plantões. É claro que a clínica é muito importante e quem faz a telemedicina precisa muito de quem faz a clínica. É um absurdo pensar que a telemedicina veio para concorrer com a clínica. Pelo contrário, ela serve para fazer parcerias, além de ser um ótimo recurso para sermos mais produtivos na rotina. Não é porque outro veterinário fez, por exemplo, um protocolo de vacinação on-line, que você tem que se sentir ofendido e não pode aplicar”.
A resolução estabelecida pelo CFMV contempla modalidades diferentes, como a teleconsulta que exige um vínculo presencial anterior com o veterinário e não pode ser utilizada em casos de urgências e emergências. Outra modalidade muito utilizada, é a teleinterconsulta que permite a troca de informações e opiniões entre médicos-veterinários, sem precisar estar no mesmo local, o que é muito importante para os casos que necessitam de uma avaliação especializada.
Hoje Carolina atende pacientes de outros países, como França, por exemplo, onde é comum a eutanásia em animais mais velhos que ficam doentes. “São tutores que não querem fazer eutanásia e procuram outra opção de tratamentos. E a língua não é um problema para a comunicação”, afirma.
Carol atende também pacientes em regiões interioranas brasileiras onde não há a presença de muitos veterinários. “Eu tenho uma cliente que é veterinária e mora no interior da Bahia. Ela me pede orientações para os animais dela, pois está afastada da clínica. Faço o acompanhamento dos animais em parceria com os veterinários de Salvador e, recentemente, sugeri o diagnóstico de pancreatite de um dos cães, o que foi confirmado após aceitarem a minha sugestão e a realização de alguns exames. Pode parecer um diagnóstico simples, mas por incrível que pareça, há locais que não há veterinários que se atualizam com frequência ou não têm essa possibilidade. Por isso, sou a favor de veterinário poder fechar diagnóstico via telemedicina, o que ainda não é permitido”.
Outro ponto importante na dinâmica de teleatendimento, é o contato via Whatsapp com os clientes que, segundo Carol, também faz parte do trabalho com telemedicina. Porém, muitos veterinários não conseguem impor limites e regras aos clientes, como horários de atendimento, por exemplo. “É preciso informar aos clientes os horários e dias de atendimentos, e orientar que em casos de emergência o paciente deve ser levado a um hospital 24 horas. Houve um caso de uma cliente antiga que eu abri uma exceção e conversei com ela em um feriado. Nessa ocasião ela me desrespeitou e disse que eu tinha a obrigação de atender já que ela estava pagando. Após isso, ela pediu desculpas, mas, mesmo assim não atendi mais. Então, não adianta você querer ser bonzinho e abrir exceções. É preciso ter regras e limites bem estabelecidos para que o trabalho não te consuma”.
Para Carolina, os médicos-veterinários precisam ver a força da telemedicina e entender que é possível trabalhar em vários formatos ao mesmo tempo, presencial e on-line. “O profissional bom será bom em qualquer lugar, no físico ou on-line, assim como o ruim, será ruim em qualquer local”, conclui.
Com exceção dos casos de emergência e urgência que são obrigatórios o atendimento presencial, a Resolução CFMV nº 1.465/2022, aponta que a responsabilidade de estabelecer os limites do atendimento é do médico-veterinário que pode ou não decidir o que será realizado ao longo da consulta via telemedicina veterinária para o bem do paciente. É importante ressaltar também que as condutas éticas do Código de Ética Veterinária (Resolução CFMV nº 1138/2016) devem ser seguidas na telemedicina.
Na telemedicina veterinária estão incluídas modalidades como: teleconsulta, telemonitoramento, teletriagem, teleorientação, teleinterconsulta e telediagnóstico. A teleconsulta é a consulta à distância, desde que uma relação prévia veterinária-animal-responsável (RPVAR) presencial seja registrada.
Neste link você pode acessar a Resolução CFMV nº 1.465/2022 na íntegra: https://manual.cfmv.gov.br/arquivos/resolucao/1465.pdf
Saber usar esse recurso está transformando a vida de muitos médicos-veterinários e a dinâmica na rotina.
A telemedicina surge como uma aliada para os médicos-veterinários que buscam otimizar sua rotina e ampliar sua forma de atendimento.