Se errar é humano, como evitar os riscos de danos ao paciente?

O primeiro passo é entender que segurança do paciente não é nada complexo e burocrático, e faz parte da gestão de riscos, algo essencial e indispensável para a existência de um estabelecimento de saúde

maio 2, 2024
18:20
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Sumário

Por Mariana Perez, da redação

Você sabe identificar os riscos ao paciente relacionados aos procedimentos que você realiza na rotina e o que pode fazer para evitá-los? Quais os erros podem ser cometidos e podem ser evitados? Falar em segurança do paciente, que faz parte da gestão de riscos de uma instituição de saúde, pode parecer complexo, mas sem esse entendimento, os médicos-veterinários, equipe, os pacientes e tutores ficarão expostos às surpresas e resultados indesejáveis.

E o que é segurança do paciente na medicina veterinária?

A especialista em gestão e saúde, sócia fundadora da Acredita Pet, empresa que faz assessoria, consultoria e treinamento dos estabelecimentos veterinários para gestão da qualidade, segurança do paciente e acreditação, Andrea Quaglio explica que: “Segurança do paciente é tentar reduzir o máximo possível o risco de danos para esse paciente. Qualquer dano que é possível de ser previsto e reduzido ao mínimo aceitável, esse processo é considerado segurança do paciente”.

E por onde começar? Antes de tudo, é importante entender que consultório, clínica ou hospital veterinário são estabelecimentos da área da saúde, não importa sua especialidade ou tamanho. E como tal, é essencial que haja gestão de riscos e a segurança do paciente faz parte disso. De acordo com Bruna Malagoli, especialista em gestão de qualidade e também sócia fundadora da Acredita Pet afirma que: “O primeiro passo é fazer um mapa de riscos, enxergar tudo o que pode dar errado e estabelecer ações de prevenção. Com isso, a probabilidade de erro vai cair consideravelmente, mas ainda pode acontecer. E quando os erros acontecem é preciso avaliar e identificar o porquê as barreiras já implementadas não funcionaram naquele momento ou não foram cumpridas, ou ainda, não estão adequadas para aquela empresa. É interessante que em muitos lugares que desenvolvemos o mapa de risco já há algumas barreiras de prevenção que são cumpridas, mas aquela equipe nunca rotulou como uma barreira contra erros e passam a entender como tal”, explica.

Barreiras para os riscos

Após fazer o mapa de riscos (momento em que se identifica os riscos) é possível estabelecer as barreiras como protocolo, check list, alertas, dupla verificação. Os riscos estão presentes por toda parte. Andrea questiona e exemplifica: “Quando pensamos em uma cirurgia, por exemplo, quais os riscos estão relacionados a esse procedimento e o que é possível fazer para reduzi-los? Um check list pré-operatório nesse caso vai te dizer para verificar a identidade do paciente, se ele tem todos os termos de consentimentos assinados pelo tutor/responsável, qual o procedimento exato que será realizado, se todos os recursos necessários estão disponíveis etc”.

Exemplo a ser seguido: aviação

Um dos principais exemplos quando falamos em gestão de riscos é a aviação. Quando há um acidente envolvendo a aviação, não só uma investigação policial é aberta quando necessária, mas uma investigação interna minuciosa é realizada imediatamente após o evento para identificar o que aconteceu e o que resultou em um erro ou vários. Essa investigação identificará quais barreiras de riscos não funcionaram, aprender com isso, ajustar e melhorar o processo.

Um ponto muito importante que Andrea destaca relacionado a aviação, é relacionado a cultura organizacional e o fato de a hierarquia não atrapalhar a segurança. “O piloto e o co-piloto, por exemplo, cada um tem as suas etapas de checagem e dupla checagem dos processos, mas se o co-piloto identifica uma falha, ele tem total autonomia e a segurança de falar, parar tudo e refazer. Agora se pensamos, por exemplo, em um hospital veterinário universitário em uma cirurgia onde há o professor, o residente e o interno. Até que ponto o interno tem liberdade para apontar um erro potencial ou uma quase falha sem ser punido? Na medicina e na medicina veterinária ainda há essas questões de comunicação a serem trabalhadas”.

Outro ponto relacionado a cultura organizacional é a segunda vítima, que ainda precisa ser muito trabalhada também na saúde humana. “Na veterinária estamos engatinhando ainda para que as pessoas entendam que, hoje existem ferramentas que ajudam a analisar o processo, estabelecem barreiras, e não com o olhar de burocracia, mas sabendo que somos humanos e podemos cometer erros, não importa quantas vezes você já tenha feito aquela tarefa”, conta Andrea.

Cultura da segurança

Na avaliação de Bruna, é preciso caminhar para a cultura de segurança. “Não será do dia para noite que vamos mudar isso, mas é um processo em que os donos, diretores e gestores dos estabelecimentos veterinários começam a ficar comprometidos com a segurança do paciente e cobram esse comprometimento também de sua equipe, que por sua vez terá mais segurança psicológica para falar sobre dúvidas e erros. E há ferramentas para ajudar, como a matriz de responsabilização que faz uma avaliação subjetiva/objetiva com perguntas bem direcionadas para entender se foi a instituição que não disponibilizou recursos necessários para aquele membro da equipe ou se ele não é competente para aquela determinada função. A matriz vai avaliar a culpabilidade individual e as falhas sistêmicas para entender as causas dos erros para não se coloque a responsabilidade daquele erro apenas em uma pessoa. Há uma série de técnicas e ferramentas que fazem parte dessa complexidade que é a segurança do paciente”.

De acordo com Andrea, para ter processos seguros é preciso ter processos estabelecidos e gerenciados. “Nosso grande desafio hoje é trazer para a medicina veterinária. Fazer com que os gestores das instituições de saúde, independentemente de ser um pequeno consultório ou um grande hospital, qualquer tipo de serviço, tem os seus riscos e é importante utilizar ferramentas para olhar esse processo”, conclui.

Bruna Malagoli, especialista em gestão de qualidade pelo Albert Einstein, trabalha na área de qualidade na saúde humana desde 2007 e há dois anos na medicina veterinária. Sócia fundadora da Acredita Pet

@acreditapet

Andrea Quaglio, sócia fundadora da Acredita Pet, enfermeira com formação em gestão e saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atua na área da qualidade desde 2008, é avaliadora da metodologia ONA* e diretora na Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (SOBRASP).

@acreditapet

*A metodologia ONA é a única no país que acredita em diferentes níveis, o que permite auxiliar as organizações no desenvolvimento da segurança dos processos, na gestão integrada e na maturidade institucional. Informações: www.ona.org.br

Reportagem da editoria Carreira Internacional da Edição 113

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