
Além de fazer o mapeamento e levantamento de dados sobre os abrigos em todos os estados brasileiros, o site Medicina de Abrigos Brasil (mvabrigosbrasil.com.br), tem como objetivo levar conhecimento e orientações sobre as boas práticas para o
bem-estar dos animais em situação de abrigo
Crédito: divulgação
Por Mariana Perez, da redação
O Brasil é o terceiro país do mundo quando falamos em número de animais de estimação nos lares e, isso, faz o mercado pet faturar bilhões de Reais anualmente. Esses são dados bem conhecidos e divulgados por todos. Contudo, há outro fato bem conhecido e fácil de encontrar, mas que não possuem estatísticas são quantos animais estão nos abrigos. E com o objetivo de fazer o mapeamento dos abrigos de animais brasileiros, sejam eles privados, públicos, mistos e protetores independentes, foi desenvolvido o site Medicina de Abrigos Brasil (mvabrigosbrasil.com.br), ideia que nasceu de uma tese de doutorado e foi idealizada pelos médicos-veterinários Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha, Lucas Galdioli e Rita de Cassia Maria Garcia, pesquisadores vinculados ao departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), financiada pela Fundação Araucária, Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná (SEDEST). “Precisamos ter informações estatísticas da dinâmica populacional dos abrigos, dados esses que podem ser filtrados por estados e nos darão parâmetros para que as políticas públicas sejam feitas de acordo com as necessidades do local”, explica Yasmin.
O site foi desenvolvido para ser um banco de dados nacional, para que se possa ter a informação de quantos animais estão entrando nos abrigos e quantos estão saindo por adoção ou por morte, e se essas mortes são por eutanásia. No Brasil a eutanásia é proibida como controle populacional, mas o alto número de eutanásias, pode ser indicativo alguma doença, por exemplo.
A ideia é incentivar os próprios abrigos a se cadastrem e atualizarem seus dados mensalmente. Reunir esses dados do país todo é a etapa do projeto a longo prazo e, com a ajuda de ONGs, iniciativa privada e do Governo Federal, será possível incentivar um número cada vez maior de abrigos a se escreverem e enviarem seus dados relacionados a dinâmica populacional.
Além disso, divulgar o site também é uma forma de impulsionar o assunto que ainda não é muito falado no Brasil e levar mais conhecimento de medicina de abrigos. De acordo com Yasmin, há a necessidade de mais organização e profissionalização para que os abrigos possam oferecer bem-estar para os animais confinados. “Se for aplicado os princípios da medicina de abrigos é possível oferecer mais bem-estar e direcioná-los para a adoção”.
O propósito do abrigo é servir de casa de passagem e não ser lar definitivo desses animais. Além disso, o gestor do abrigo precisa ver a atividade com a organização de uma empresa e aplicar políticas internas que promovam o manejo sustentável e ético. Contudo, de acordo com Yasmin, muitos gestores de abrigos ou protetores independentes não veem dessa forma. “Muitos se assustam quando falamos em gestão. Porém o propósito dessa visão pode não ser um produto ou serviço, mas tem como propósito levar o maior número de animais possível para adoção e, para isso, é preciso organização, gestão e boas práticas como os 4 Rs que são: o resgate seletivo, a recuperação, a ressocialização e a reintrodução na sociedade”, pontua.
Yasmin explica que a medicina veterinária tradicional não é possível ser praticada em um ambiente coletivo. “Por isso precisamos levar capacitação também para os médicos-veterinários sobre de que forma é possível atuar no coletivo e reduzir o número de doenças, reduzir estresse e permitir que o animal expresse o comportamento mais próximo do natural em ambiente coletivo”.
Além de capacitar os veterinários, o projeto incentiva-os a levar essas informações para outras pessoas e para o abrigo em que ele atua. “O médico-veterinário tem um papel muito importante e pode contribuir com o avanço do site, tanto propagar a ciência da medicina de abrigos, quanto estimular as pessoas a se cadastrarem. Por isso também buscamos o apoio dos conselhos regionais de medicina veterinária e do Conselho Federal de Medicina Veterinária”.
De acordo com Yasmin, a Catland é um exemplo de abrigo que chegou em 2018 precisando de muitos ajustes e hoje é referência, e praticam a medicina de abrigos de excelência. “Eles entenderam conceitos importantes como que existem animais de passagem rápida e animais de passagem lenta. Aquele animal que tem mais condições de ser adotado rapidamente, não precisa esperar outro que chegou antes no abrigo ou é mais velho. É importante pensar que aquele recurso que está sendo ocupado por um animal saudável e social poderia ser utilizado por outro que precisa de mais ajuda. Além da saúde física, a ressocialização dos animais é muito importante e muitos abrigos não veem como necessidade básica”.
Apesar da realidade brasileira, isso tudo é possível de ser implementado se os envolvidos se permitirem a entender melhor sobre o que é possível fazer no local. “Por exemplo, para evitar um surto, é importante ter um protocolo de higienização. Obviamente que não é possível esterilizar aquele local. Muitos veterinários precisam entender isso também, que não é possível cobrar a esterilização de um abrigo, pois é impossível. Mas é possível fazer uma higienização correta e que reduza ao máximo o número de patógenos para não chegar a um limiar que cause um surto. E o passo a passo é simples, retirar a matéria orgânica, fazer a limpeza com um sabão, enxaguar e, só então, utilizar o desinfetante deixando agir pelo tempo correto e enxaguar novamente, considerando a secagem um passo importante também. Não adianta misturar vários produtos e não usar da maneira correta. É um detalhe simples, mas que reduz surtos, reduz custos e melhora a qualidade de vida dos animais”.
O cadastramento é feito pelo próprio abrigo ou protetor que conta com um tutorial para auxiliar. Ao efetuar o cadastro, os dados já entram para o mapeamento e será preciso atualizar mensalmente. Os abrigos não pagam nada e não irão receber nenhum tipo de advertência ou punição. “Os abrigos precisam entender a importância de coletar e atualizar os dados da maneira correta e os benefícios que haverá no futuro com mais informações”.
No site, há também o espaço “Biblioteca”, onde os abrigos podem encontrar conteúdos como guias e manuais com uma linguagem fácil de ser entendida e que auxiliam para que as boas práticas sejam seguidas. Os abrigos que estão cadastrados contarão com materiais exclusivos. A adaptação pode e dever ser feita aos poucos com a implementação das políticas da medicina de abrigos.
Outro espaço que o site disponibiliza é o de “Voluntários”, que foi inspirado na plataforma Atados. O programa de voluntários do Medicina de Abrigos visa fazer a ligação entre aqueles abrigos de animais que precisam de colaboradores e pessoas que podem se voluntariar de acordo com a região.
Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha - @yasmin_sgrocha
Lucas Galdioli - @lgalds
Rita de Cassia Maria Garcia - @garciaritadecassiamaria
Além de fazer o mapeamento e levantamento de dados sobre os abrigos em todos os estados brasileiros, o site Medicina de Abrigos Brasil (mvabrigosbrasil.com.br), tem como objetivo levar conhecimento e orientações sobre as boas práticas para o
bem-estar dos animais em situação de abrigo