Veterinária na cozinha

Escolher o alimento certo, com o preparo certo exige muito conhecimento e dedicação. Além disso, a dieta personalizada faz toda a diferença, principalmente para animais com restrições ou enfermidades. E é com esse foco que a médica-veterinária e nutricionista Melissa Guillen, ao lado de mais dois sócios, busca conquistar o mercado da alimentação natural

outubro 1, 2024
17:19
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Sumário

Reportagem de Mariana Perez, jornalista

Com uma rotina dividida entre os atendimentos na clínica e a cozinha, a médica-veterinária gastroenterologista e nutricionista, Melissa Guillen, conversou com a Vet&Share sobre os cuidados com os alimentos, a importância do preparo correto e os desafios de empreender na área da alimentação natural.

O projeto para oferecer alimentação natural para cães e gatos nasceu em 2016, quando Melissa recebeu o pedido de uma cliente. No início, Melissa recorda que não aceitou, pois em sua rotina agitada não tinha como inserir mais essa tarefa. Porém, com muita insistência da cliente e o carinho que tinha pelo paciente, acabou aceitando.

Para Melissa, trabalhar com a nutrição e com o preparo dos alimentos é muito que mais apenas prescrever uma boa dieta balanceada. Ela explica que é preciso saber escolher o alimento e qual a melhor forma de preparo para cada paciente, pois a técnica culinária a ser utilizada vai transformar de maneira diferente a composição desse alimento. Além disso, existe o pré-preparo e é possível reduzir, por exemplo, fósforo e potássio de alguns alimentos antes do cozimento, para que essa dieta tenha menor quantidade desse tipo de mineral. Técnica que é importante para os casos em que o animal não pode ingerir esses minerais, mas adoram determinados alimentos.

“A nutrição engloba muitas coisas. A escolha do alimento e qual a melhor forma de preparo. Um alimento cozido é diferente de um alimento assado, ou de um alimento grelhado, pois a forma de preparo modifica a estrutura e o sabor do alimento. Além disso, o corte também vai influenciar bastante”.

Melissa Guillen, médica-veterinária gastroenterologista e nutricionista, sócia fundadora da Apetit Pet

Melissa destaca que as técnicas para a produção dos alimentos são utilizadas de acordo com o perfil de cada animal, uma dieta produzida de forma individualizada e personalizada.

“Por exemplo, para um animal idoso com dificuldade de mastigação, é preciso oferecer para ele uma consistência de alimento mais adequada. Já para um animal que tem disfunção cognitiva e dificuldade de apreender o alimento, utilizamos outra técnica para facilitar a apreensão. Tudo isso está dentro da nutrição. São muitos pontos que precisam de atenção para oferecer a melhor refeição para aquele animal, respeitando a idade, a quantidade de atividade física que ele pratica, a doença que ele apresenta e, também o ambiente que ele vive”.

Ao mudar a dieta do animal, Melissa afirma que é possível influenciar positivamente no hábito alimentar de seus tutores.

“Às vezes modificamos até o hábito alimentar da família, pois a obesidade de um animal normalmente é reflexo dos hábitos alimentares não saudáveis dos tutores. Na maioria das vezes, quando fazemos uma dieta para perda de peso para o animal, a família acaba levando essa dieta para a rotina e emagrece também por conta dos hábitos mais saudáveis”.

Com a divulgação boca a boca dos clientes, Melissa lembra que quando iniciou a empresa precisou alugar um apartamento só para preparar os alimentos e colocar as geladeiras e freezers necessários. Entre 2016 e 2018, Melissa contava com duas ajudantes de cozinha e uma colaboradora para o administrativo. Nessa época ninguém acreditava que uma cozinha para cães e gatos pudesse dar certo.

“Com o crescimento, comecei a procurar investidores e foi muito difícil, porque naquela época as pessoas ainda não acreditavam nesse nicho. Ouvi várias vezes a seguinte frase: Como é que eu vou investir o meu dinheiro em uma cozinha de cachorro? Percebi que o mercado não estava pronto para isso. Comecei a tentar formalizar a cozinha, mas para formalizar a cozinha pelo Ministério da Agricultura era necessária uma estruturação muito cara. E eu não tinha dinheiro para fazer esse investimento”.

Por falta de recursos e por não querer seguir sem se formalizar de forma adequada, Melissa decidiu fechar essa cozinha. Na época, suas funcionárias aceitaram trabalhar fazendo os alimentos direto na casa dos clientes e, com a chegada da pandemia, os alimentos eram preparados nas casas das próprias funcionárias, sempre com a orientação da prescrição de Melissa.

Em 2023, Melissa se associou a Danielle Selem, médica-veterinária clínica geral e anestesiologista, que também tinha interesse em empreender na área. Elas uniram forças e começaram a montar um plano de negócios para procurar investidores em um novo momento do mercado, bem diferente de 2016. Segundo Melissa, a demanda por alimentação natural sempre existiu, o que mudou foi a aceitação do mercado pelo novo formato de negócio. E quem acreditou e decidiu investir foi um cliente, Jackson Fujii, que entrou para a sociedade.

Com isso, a empresa pode alugar uma cozinha profissional no Shopping Bayside, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ) e, principalmente, investir em bons equipamentos.         

Danielle Selem, médica-veterinária, clínica geral e anestesiologista, sócia da Apetit Pet

“Hoje trabalhamos com um forno combinado, que é um forno extremamente diferenciado. É um forno alemão e tem conexão direta com os fabricantes na Alemanha. Os técnicos têm um controle diário do nosso forno. O que é que está sendo produzido, como é que está sendo feita a higienização e, quando há algum problema, remotamente eles resolvem. Quando não é possível resolver de forma remota, enviam um técnico. Esse forno preserva todos os nutrientes do alimento. Depois de assado, o alimento é porcionado, embalado a vácuo e colocado em um ultra congelador a 28 graus negativos. Esse choque de temperatura contribui para que o alimento não perca nutrientes. O valor nutricional é preservado tanto na cocção, quanto no congelamento. Do ultracongelamento esse alimento vai para o freezer aguardar a saída”.

Diferenciais

Na avaliação de Melissa, um dos diferenciais é ter duas veterinárias como sócias. Segundo Melissa, muitos colegas relatam que não enviam as prescrições para muitas cozinhas por falta de confiança no processo de produção.

“Como eu sou veterinária e estou atrás da mesa com meu cliente, eu consigo entender quais são as carências em relação aos meus concorrentes.  E por ser veterinária, eu também consigo entender a carência do colega, pois nessas empresas que são nossas concorrentes hoje, a maioria dos donos não são veterinários, tendo apenas veterinário contratado. E isso faz uma grande diferença, porque estamos dentro do negócio de uma forma completa”.

E com esse olhar veterinário, são produzidas linhas especificas de alimentos completos para cada situação: manutenção, personalizada, internação, prescrição e dermatológica. A linha de manutenção é composta por alimentação completa, que será em breve disponibilizada também em pet shops, com quatro sabores, para animais saudáveis e sem restrições. Já a linha personalizada é uma alimentação balanceada e preparada de acordo com as necessidades de cada paciente. Na linha de prescrição recebemos a prescrição de um nutrólogo e produzimos de acordo com aquela receita.

A linha da internação, chamada de saúde +, foi desenvolvida com foco nas principais necessidades dos pacientes internados. “Na linha da internação, são cinco cardápios que vão atender todas os motivos de internação. Dietas especificas para rim, coração, pâncreas, alteração digestiva, neoplasia, pós-trauma”.

Já a linha dermatológica, de acordo com Melissa, foi criada para sanar uma carência no mercado. Na dermatologia é comum fazer a dieta da exclusão para identificar qual alimento causa a alergia no paciente. E a utilização de proteínas inéditas como rã e coelho, causam muita resistência dos clientes para manejar esses alimentos. “O dermatologista vai prescrever uma proteína e um carboidrato. Fiz uma pesquisa com os veterinários dermatologistas referências no Rio de Janeiro e todos eles escolheram a batata doce como carboidrato. E quanto a proteína inédita, todos ficaram divididos entre a rã e coelho. Por isso, temos como opção a rã e o coelho como proteína e a batata doce como carboidrato. É uma linha de tratamento e não de uso contínuo, assim como a linha da internação que é restrita à internação”.

Desde que iniciou, Melissa busca estudar e seguir a legislação referente a produção desses alimentos. “A legislação mudou desde que comecei. Naquela época nem o próprio Ministério da Agricultura conseguia me orientar, pois não havia legislação para cozinha de animais de companhia. Hoje temos um registo da empresa, mas não precisamos registrar produtos. Precisamos registrar apenas os produtos que são terapêuticos. A linha que produzimos é balanceada e, mesmo a linha da internação não é considerada terapêutica pelo MAPA. É uma dieta caseira balanceada para aquela determinada doença”.

Atualmente, a empresa atende a cidade do Rio de Janeiro e os planos são de expansão, pois, de acordo com Melissa, as principais concorrentes que atuam hoje no mercado produzem a formulação de alimentos próprias e não personalizadas. “O que fazemos aqui é como uma farmácia/cozinha de manipulação, recebemos a prescrição e produzimos. Estou muito feliz de ver esse sonho realizado e de poder oferecer esse serviço. Pois é importante ver os benefícios desse tipo de alimentação para nossos pets. Mesmo depois de 20 anos trabalhando na área, eu me surpreendo com o resultado. O alimento natural é incrível”.

Instagram: @apetitpet - Site: apetitpet.com.br/

Capa Edição 118 - Outubro de 2024


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março 27, 2025
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