Desvendando a complexidade da hematologia

Na medicina veterinária a especialização em hematologia vem ganhando espaço e cada vez mais interessados

junho 3, 2024
19:42
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Sumário

Por Mariana Perez, da redação

Entre as muitas áreas que estão avançando visivelmente na medicina veterinária, uma delas é a hematologia. Apesar de o aprofundamento na especialidade ser algo ainda recente, a busca pelos cursos de pós-graduação cresce e é possível encontrar uma boa quantidade de cursos de aprimoramento. “É uma especialidade muito nova, os cursos de pós-graduação são recentes e os profissionais ainda estão se formando. Sem contar que é uma especialidade complexa e, é naturalmente mais difícil para o clínico geral conduzir casos críticos de quadros hematológicos”, explica a médica-veterinária Ana Carolina Ruiz (@vet.carolruiz), hematologista com ampla experiência em paciente grave, mestranda em patologia clínica e coordenadora do curso de pós-graduação do Ebramev (@ebramev), em Campinas (SP).

A Vet&Share conversou com Ana que contou sobre sua rotina nessa complexa e apaixonante especialidade. Confira entrevista a seguir:

Vet&Share: O que te fez escolher a hematologia?

Ana Carolina Ruiz: Desde que me formei, trabalho com terapia intensiva nas principais unidades de terapia intensiva (UTI’s) veterinária de São Paulo (SP). Durante essa jornada, comecei a perceber uma deficiência muito grande na condução dos pacientes com distúrbios hematológicos, principalmente os com distúrbio de coagulação associado. E nós como equipe da UTI, tínhamos muita dificuldade em conduzir esses pacientes e, também, sentimos a dificuldade dos próprios especializados que naquela época não eram muitos.

A hematologia começou a condensar mesmo há pouco tempo. Em 2019, que nem é tanto tempo assim, a hematologia era bem segmentada e havia poucos profissionais. Trabalhando na UTI, percebi que tínhamos muita dificuldade em receber suporte desses veterinários que faziam a hematologia clínica. Era como se fossem universos diferentes, o paciente da clínica e o paciente grave.

E por conta desse desafio, fui me aprofundando na área e me apaixonando. De forma natural, fui caminhando para a hematologia, mas com ênfase no paciente grave, que é o que eu mais trabalho hoje. Eu também faço hematologia clínica, mas a demanda maior é o paciente crítico que, além do distúrbio hematológico, tem outras questões associadas.  Ou então, é aquele paciente crítico pela própria doença hematológica.

Comecei a trazer cursos em formato de treinamento e palestras para os médicos-veterinários, principalmente sobre um dos principais desafios que são os distúrbios de coagulação. Além disso, estou finalizando um mestrado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em patologia clínica com ênfase em hemostasia no doente grave.

Vet&Share: Como é sua rotina hoje?

Meu ponto forte na hematologia é a experiência em conduzir pacientes graves e aqueles com distúrbios trombóticos e hemorrágicos, além de trabalhar na prevenção das tromboses, complicação comum a várias doenças, como câncer, endocrinopatias, doenças gastrointestinais entre outras, algo que gera dúvida até mesmo nos hematologistas atuantes.

Comecei a prestar consultoria principalmente na pandemia, que foi um divisor de águas na minha carreira. Nesse período, comecei a ficar mais conhecida na parte acadêmica e os alunos que assistiam as minhas aulas, começaram a solicitar consultoria e suporte para os próprios pacientes. Atualmente presto consultoria e assessoria em diversos casos de internações por todo o Brasil na modalidade teleinterconsulta. Hoje a teleconsulta é a principal atividade da minha rotina, sendo 95% dos meus atendimentos são por telemedicina para médicos-veterinários do Brasil todo. Atendo de 70 a 100 pacientes (casos) por mês on-line, via teleinterconsulta.

Além disso, ofereço treinamento de equipes para hospitais, tenho a minha empresa de cursos de atualização, a Hemoin (@hemoin.vet), sou professora em vários cursos de pós-graduação, e coordeno a pós-graduação da Ebramev, que está indo para a terceira turma, mas como uma novidade. A próxima turma terá início em agosto de 2024 e contará com uma clínica escola, onde o aluno poderá fazer atendimentos reais, sempre supervisionado pelos preceptores. O objetivo é acabar com o principal problema da pós-graduação que é ter muita teoria e não conseguir aplicar o que se aprende. Essa pós-graduação tem como diferencial formar os alunos com um preço mais acessível, com professores de alto nível, em 18 meses e agora com prática.

Vet&Share: Quais são as principais dificuldades dos médicos-veterinários quando buscam por consultoria?

A demanda maior que os clínicos têm é com relação aos distúrbios de coagulação, trombose, hemorragia e doenças imunomediadas e autoimunes. Existem muitas dúvidas no meio veterinário, e, até mesmo, entre os próprios veterinários hematologistas. Principalmente nos quadros imunomediados ou autoimune como anemia hemolítica imunomediada ou trombocitopenia imunomediada, que é justamente, diagnosticar e manejar os imunossupressores.

Esse tipo de dúvida é comum, pois não se tem esse conteúdo na graduação. Na faculdade aprendemos apenas o básico do básico. É muito difícil o veterinário sair sabendo conduzir um paciente hematológico. E não é por falta de literatura. Há muita literatura na área. Acredito que hoje tenhamos a necessidade de segmentar mesmo, pois a medicina veterinária está crescendo exponencialmente por conta da exigência dos tutores. A significância desses animais para essas famílias obriga os médicos- veterinários a buscarem cada vez mais conduzir as doenças da melhor forma. E, por isso, a importância de se ter as especialidades, pois é impossível saber de tudo.

Sem contar que a condução do paciente hematológico não é simples, é bem delicada. Nenhum tratamento dura apenas um mês, são meses e, em alguns casos, até anos. Acredito que a maior dificuldade é a falta de conhecimento mais aprofundado sobre o assunto.

Vet&Share: E como funciona a consultoria e qual o feedback desses casos que você atende?

A telemedicina ajuda muito nas conduções desses casos, porque muitas regiões que eu atendo, não tem hematologista veterinário. O veterinário clínico me procura e eu conduzo o caso com ele.

Em alguns casos, é preciso se adaptar aos recursos disponíveis para aquela região. Sejam eles recursos financeiros, insumos, tecnológico etc. Mas dentro das limitações de cada local fazemos o nosso melhor e aumentamos a probabilidade de o desfecho ser positivo para o paciente.  

Vet&Share: E o que temos de recursos mais recentes disponíveis para a hematologia veterinária?

No que diz respeito a coagulação, o que temos de mais tecnológico é a implementação da tromboelastometria, um exame que avalia a coagulação em tempo real usando o sangue total na temperatura do próprio paciente. É um dos melhores exames para guiar o manejo do sangramento e das transfusões.

Já com relação a medicação, são os agonistas do receptor de trombopoetina. Os dois agonistas que temos no mercado são o Romiplostim e Eltrombopague, dois medicamentos bem promissores em quadros de distúrbios plaquetários e medulares.

Na parte comportamental, outra questão que também evoluiu muito foi o comportamento dos próprios veterinários ao aceitarem que outro colega entre no caso para ajudar a conduzir. Acredito isso é por conta da exigência dos próprios tutores e quem não mudar essa mentalidade, vai ficar para trás.

Ana Carolina Ruiz, formanda na universidade Anhembi Morumbi em 2017, mestranda em patologia clínica com foco em hemostasia no doente grave na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista (Botucatu/SP), certificada pelo ABC Trauma (Latin American Veterinary Emergency and Critical Care Society - LAVECCS), membro da diretoria da Academia Brasileira de Medicina Veterinária Intensiva (BVECCS) e membro da diretoria da Associação Brasileira Veterinária de Hematologia e Medicina Transfusional (ABVHMT), possui experiência nos cuidados com o paciente crítico, em especial as doenças hematológicas com ênfase em hemostasia e trombose, palestrante ativa nos temas acima citados, oferece capacitação técnica para equipes médicas em todo o Brasil, professora convidada de pós-graduação nas instituições PAV Cursos, Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE) e coordenadora do curso de pós-graduação em hematologia na Ebramev. Atende hematologia no hospital veterinário Veros (São Paulo/SP) e em hospitais parceiros em todo o país via telemedicina pela modalidade teleinterconsulta.

Edição 114


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