
Os nutrientes certos, na quantidade certa, contribuem para a prevenção de diversas doenças e são aliados dos tratamentos de qualquer enfermidade. Mas, para que uma boa dieta seja prescrita, é preciso uma anamnese detalhada e o ajuste adequado das possibilidades de acordo com a realidade do tutor do paciente
Por Mariana Perez, da redação
A avaliação nutricional foi reconhecida como o quinto parâmetro vital de gatos e cães, em 2011, pelo Comitê de Nutrição Global da WSAVA (The World Small Animal Veterinary Association). O documento, com as diretrizes da WSAVA, recomenda que a avaliação nutricional seja feita em duas etapas: a avaliação de triagem e a avaliação aprofundada.
Após uma avaliação de triagem, uma investigação mais aprofundada pode ser necessária, assim como o encaminhamento para um veterinário especializado em nutrição, como é o caso da médica-veterinária, Natane Alves, que atua na área nutrologia veterinária, no Rio de Janeiro (RJ), e recebe muitos pacientes encaminhados por outras especialidades.
E uma boa anamnese nutricional vai muito além de avaliar o escore corporal e perguntar qual a marca da ração que esse animal come. De acordo com Natane, é essencial entender a rotina alimentar desse paciente em detalhes. “A maioria dos pacientes já chega com muitos erros na alimentação. São inúmeros petiscos, frango na ração, alimentos oferecidos sem controle. E essa alimentação desregrada influencia significativamente na saúde desse animal, independente dele ser um paciente sadio ou não”.
Uma situação que acontece bastante, de acordo com Natane, é o tutor dizer que seu animal não aceita nenhuma marca de ração, mas quando vai verificar a rotina alimentar desse paciente, ele comeu várias vezes por dia diversos outros alimentos como petiscos, pão etc. “Por isso, além do quadro clínico desse paciente, eu preciso avaliar como é a alimentação ao longo do dia, quantas vezes ele come e saber tudo o que ele come, mesmo os pedacinhos de qualquer alimento”.
Outro ponto que Natane ressalta, é a atenção com a saúde gastrointestinal. “Perguntar se o paciente tem episódios de vômitos ou diarreias, e como estão as fezes. Preciso saber se esse paciente foi sedado recentemente, pois isso pode alterar o metabolismo. Se tem tártaro, se é castrado, se está tomando algum medicamento. Somente depois de avaliar todos esses fatores, irei formular uma dieta para aquele paciente e, até mesmo, encaminhar para algum veterinário especializado em outra área se necessário. Recentemente atendi um paciente que foi encaminhado ao meu consultório por um dermatologista. Era um paciente atópico que também apresentava irregularidades gastrointestinais. Após identificar que essas alterações gastrointestinais não estavam relacionadas à dieta, encaminhei para um gastroenterologista. A nutrição precisa sempre estar de mãos dadas com todas as especialidades, pois é um trabalho multidisciplinar”.
Por meio do encaminhamento, Natane recebe muito dos pacientes em seu consultório. “Normalmente, o animal encaminhado por outro médico-veterinário, tem uma doença e precisa de um tratamento coadjuvante com a nutrição. Por exemplo, são pacientes renais, endócrinos e, principalmente, animais obesos”, conta.
A segunda maneira de receber pacientes em seu consultório, explica Natane, é quando o próprio tutor procura o consultório buscando a alimentação natural e tem uma visão equivocada de que isso resolverá todos os problemas de saúde do animal. “Nesse momento entra o nosso papel como veterinário de orientar e explicar que a alimentação irá auxiliar na melhora e manutenção da saúde, na melhora da resposta celular de qualquer tratamento que esteja fazendo, mas a alimentação sozinha não irá curar as doenças que o paciente já tem”.
Há também aqueles casos, segundo Natane, em que o tutor leva o animal ao consultório com alterações clínicas e diz que oferece alimentação natural, que já sabe tudo sobre isso, pois leu em determinados sites. “Esse tutor não enxerga em um primeiro momento que essas alterações são devido a alimentação inadequada, pois elas não acontecem da noite para o dia. Esse tutor só vai entender quando o problema já está grave e o animal está com sintomas clínicos. São pacientes com deficiência de vitaminas, de minerais e aminoácidos. Além disso, diferente do ser humano, os animais, principalmente os cães, apresentam tamanhos e necessidades muito diferentes no que diz respeito a quantidade”.
E para que a avaliação seja feita de maneira adequada, Natane destaca ainda que é essencial dar espaço para o tutor se sentir à vontade. “Caso contrário, se ele se sentir julgado, ele vai esconder”.
Outra questão importante, no que diz respeito a comunicação com o tutor, é adequar as opções da dieta para a realidade de cada família. “Não adianta eu prescrever alimentação natural se aquele tutor não tem condições financeiras ou tempo para se dedicar a isso. Uma dieta só vai funcionar se for adequada a realidade da família daquele paciente”.
E, por fim, o retorno ao consultório é algo que Natane incentiva, pelo menos anualmente. “É óbvio que nenhum paciente precisa ir ao nutricionista uma vez ao mês sem que isso seja realmente necessário, mas é importante uma vez ao ano acompanhar e fazer as avaliações para saber se aquela dieta ainda está adequada, se aquele paciente engordou ou apresenta alguma deficiência”, destaca e finaliza: “Como disse Hipócrates - ‘Que seu remédio seja seu alimento, e que seu alimento seja seu remédio’ - ”.
Natane Alves, médica-veterinária que atua na área de nutrologia.
Crédito: Arquivo pessoal
Os nutrientes certos, na quantidade certa, contribuem para a prevenção de diversas doenças e são aliados dos tratamentos de qualquer enfermidade. Mas, para que uma boa dieta seja prescrita, é preciso uma anamnese detalhada e o ajuste adequado das possibilidades de acordo com a realidade do tutor do paciente