Dois dos tipos mais prevalentes de cálculos urinários
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Por Priscila Rizelo*
As urolitíases ou cálculos urinários são uma condição frequente que afeta cães e gatos, apresentando uma variedade de composições químicas. Dois dos tipos mais prevalentes de cálculos urinários são os de estruvita e oxalato de cálcio. Este artigo tem como objetivo fornecer uma visão abrangente sobre esses dois tipos de urólitos, incluindo sua formação, diagnóstico, tratamento e abordagem nutricional.
Estruvita: Os cálculos de estruvita, também conhecidos como fosfato de amônio magnesiano, são compostos por fosfato de amônio e magnésio. Eles são formados em um ambiente urinário alcalino, geralmente associado a infecções do trato urinário por bactérias produtoras de urease, como Staphylococcus, Proteus e Klebsiella. A urease hidrolisa a ureia presente na urina, aumentando o pH e favorecendo a precipitação dos íons fosfato, amônio e magnésio na forma de cristais.
Oxalato de cálcio: Os cálculos de oxalato de cálcio são compostos principalmente por oxalato de cálcio. Eles se formam em um ambiente urinário ácido e são influenciados por uma variedade de fatores, incluindo a dieta, a concentração de cálcio e oxalato na urina e distúrbios metabólicos. A supersaturação desses compostos na urina pode levar à precipitação e formação de cristais de oxalato de cálcio.
O diagnóstico de urolitíase é geralmente baseado em exames clínicos e urinálise. Os sinais clínicos comuns incluem hematúria, disúria, polaciúria, e, em casos graves, obstrução do trato urinário. Exames de imagem, como radiografias e ultrassonografias, podem ser utilizados para identificar a presença e a localização dos cálculos. A urinálise pode revelar a presença de cristais e fornecer informações sobre o pH e a composição química da urina.
Identificar a diferença entre cálculos de estruvita e oxalato de cálcio antes da sua remoção cirúrgica é um desafio, pois ambos os tipos são radiopacos. Além disso, a presença de cristais observados na urinálise não é conclusiva para determinar o tipo de urólito presente. No entanto, a história clínica do paciente e alguns exames complementares podem fornecer pistas importantes. Por exemplo, cálculos de estruvita estão frequentemente associados a infecções do trato urinário por bactérias produtoras de urease. A confirmação definitiva da composição do urólito só pode ser feita por meio da análise direta do urólito removido.
O tratamento das urolitíases depende da composição dos cálculos, da presença de infecções urinárias e da gravidade dos sintomas. Para cálculos de estruvita, a terapia envolve geralmente uma combinação de dieta para dissolução juntamente com o controle da infecção por meio do uso de antibióticos. Cálculos de oxalato de cálcio podem exigir intervenção cirúrgica para remoção quando há sinais clínicos, além de modificações na dieta.
A nutrição desempenha um papel crucial no manejo e na prevenção das urolitíases em cães e gatos. Embora durante muitos anos (e ainda hoje) a alteração do pH tenha sido considerada uma abordagem para o manejo de cálculos de estruvita e oxalato, atualmente, abordagens mais modernas, como a Supersaturação Relativa Urinária (RSS), estão disponíveis. Essas abordagens indicam que o pH alvo deve ser fisiológico, permitindo o uso de uma única dieta para o manejo de ambos os tipos de cálculos. O principal objetivo da nutrição para gatos e cães com urolitíases é aumentar a diluição urinária, estimulando a ingestão de água. Para isso, pode-se incluir um ligeiro incremento no teor de sódio dos alimentos, o que tem demonstrado eficácia e segurança em cães e gatos. Outro objetivo é reduzir a quantidade de minerais precursores na urina.
Em conclusão, as urolitíases são condições complexas que requerem uma abordagem integrada para diagnóstico, tratamento e prevenção. Compreender os fatores de risco, sinais clínicos e opções de manejo é essencial para garantir o bem-estar e a saúde dos pacientes afetados. Uma colaboração entre médicos-veterinários e tutores, aliada a uma nutrição adequada, é fundamental para enfrentar esse desafio clínico com sucesso.
*Priscila Rizelo é médica-veterinária, coordenadora de comunicação científica Royal Canin Brasil
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Dois dos tipos mais prevalentes de cálculos urinários