Sódio na alimentação de gatos e cães

Benefícios e desmistificação de conceitos para uma nutrição adequada

fevereiro 2, 2024
14:52
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Sumário

Crédito foto: divulgação

Por Ana Chizzotti*

Diferentemente das dietas humanas que, frequentemente há necessidade da restrição de sódio, cães e gatos apresentam uma tolerância maior a esse mineral. Compreender os benefícios e desmistificar alguns conceitos é crucial para garantir uma nutrição adequada.

O sal é composto por 39,34% de sódio e 60,66% de cloreto, dois dos sete macrominerais essenciais para os mamíferos. O sódio é um dos elementos mais abundantes no organismo e é fundamental para funções vitais do corpo, participa da manutenção da homeostase, como a regulação do equilíbrio ácido-básico e a preservação do volume extracelular, devido à sua influência na regulação da pressão osmótica. O sódio também é responsável por desempenhar uma função importante na geração e transmissão de impulsos nervosos, na manutenção do potencial elétrico, utilização de glicose, absorção de nutrientes, bom funcionamento dos músculos e contração muscular do coração.

Cães e gatos saudáveis são capazes de ajustar as diferentes quantidades de sódio ingeridas por meio do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA). Este é responsável pela regulação da pressão arterial, função cardíaca e vascular. A liberação de renina pelas células glomerulares renais é estimulada pela hipotensão renal, decréscimo de sódio nos túbulos contorcidos distais e estímulo nervoso simpático. A renina causa a ativação da angiotensina II, potente vasoconstritor que provoca aumento da resistência vascular e pressão arterial, e estimula o córtex da adrenal a liberar aldosterona, a qual tem como funções aumentar a reabsorção de sódio pelos rins, o que resulta em retenção desse mineral e estimula a liberação do hormônio antidiurético. Quando as concentrações sanguíneas de sódio se elevam, este sistema é inativado pelo mecanismo de feedback negativo, a fim de manter regulados o metabolismo de sódio e a pressão sanguínea. Esse mecanismo demonstra a capacidade dos animais de tolerar teores mais elevados de sódio sem comprometer sua saúde. A condição relacionada ao excesso de sódio no sangue geralmente é secundária a outras doenças ou é causada pela falta de acesso à água potável.

O National Research Council (NRC) aponta que os pets podem consumir, de forma segura, até 15 g de sódio por kg de matéria seca, o que representa 1,5% do total do alimento. Já as diretrizes nutricionais da Federação Europeia de Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (FEDIAF) de 2021, afirmam que níveis de sódio de até 3,75g/1000kcal são adequados para cães e gatos saudáveis.

Principais mitos sobre o sódio

Pressão arterial: Contrariando um mito comum, estudos indicam que a pressão arterial em cães e gatos saudáveis não é significativamente influenciada pela concentração de sódio na dieta. Restringir o sódio sem necessidade pode ativar precocemente o sistema renina-angiotensina-aldosterona, aumentando o volume sanguíneo e a pressão arterial.

Urólitos: Cálculos urinários não têm o sódio como único responsável, podendo ser o resultado de diversos agentes, como saturação urinária, concentração de solutos e pH urinário, além dos fatores não dietéticos para a sua formação. Dietas coadjuvantes urinárias, com teores moderados de sódio, são até recomendadas para auxiliar no tratamento e prevenção de urólitos. Atribuir ao sódio a formação de urólitos é insustentável.

Quando é necessário restringir o sódio na dieta

A redução do sódio na dieta é realizada apenas para os animais que apresentam doença renal crônica em fases mais avançadas (estádios III ou IV) e algumas patologias cardíacas, como Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC).

Nesse ponto, é importante ser discutido o uso do sódio e a pressão arterial em cães e gatos, restringir por completo o sódio do manejo alimentar pode ativar precocemente o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que fará a absorção de sódio e água pelos rins, aumentando assim o volume sanguíneo e consequente pressão arterial, efeito contrário ao desejado.

A restrição para os casos de animais hipertensos deve ser realizada apenas nos estágios mais avançados da doença, e mesmo assim há algumas controvérsias entre os estudos sobre a dieta a ser utilizada.

Insuficiência cardíaca: Diversas categorias de insuficiência cardíaca demandam diferentes níveis de restrição de sódio. No caso de animais diagnosticados precocemente com insuficiência cardíaca congestiva, restrições leves de sódio podem ser benéficas. No entanto, a restrição severa só deve ser recomendada para pacientes com sintomas clínicos graves de congestão, como edema pulmonar e efusão. Considera-se 0,7 g/1.000 kcal níveis moderados e dietas com baixos níveis de sódio nas concentrações de 0,4 g/1.000 kcal.

Doença renal: Diversos trabalhos científicos estudaram a associação entre a ingestão de sódio e a evolução da doença renal nos animais de companhia e não encontraram correlação entre os dois fatores. Um experimento conduzido com gatos parcialmente nefrectomizados, a ingestão de sódio na dieta não exerceu efeito sobre a pressão arterial. Embora seja recomendado evitar o excesso desse mineral, a ingestão de sódio não deve ficar aquém da recomendação mínima, pois a restrição severa desse mineral pode agravar o quadro clínico do paciente.

A ausência ou restrição de forma não acompanhada ou sem necessidade do sódio nas dietas pode acarretar vários problemas para a saúde dos pets, como falta de apetite, anorexia, problemas com crescimento, desidratação, aumento dos batimentos cardíacos e, até mesmo, desnutrição.

*Ana Chizzotti é coordenadora Técnica Granvita, médica-veterinária, com mestrado em Nutrição de Cães e Gatos pela Universidade Federal de Lavras (UFLA/MG)

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Edição 110


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