O que é segurança psicológica?

Temas relacionados à saúde mental estão cada vez mais em pauta na medicina veterinária. Contudo, a atenção com a segurança psicológica nos ambientes de trabalho, ainda não é algo comum ou conhecido nos estabelecimentos veterinários. O médico-veterinário brasileiro, Luiz Santos, professor de anestesiologia veterinária da Universidade de Glasgow, na Escócia, e estudante de PhD (Doutorado) pela Universidade de Queensland, na Austrália, está desenvolvendo uma pesquisa inédita envolvendo profissionais de diversos países

fevereiro 1, 2024
19:45
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Crédito foto: divulgação

A liberdade de expressar opiniões, fazer questionamentos e admitir seus erros sem medo, sabendo que terá auxílio e orientações, e não críticas, julgamentos negativos ou demissão, são algumas das características de um ambiente de trabalho que oferece à sua equipe segurança psicológica (Psychological safety, em inglês). Um ambiente que oferece esse tipo de condições para seus profissionais faz com que novos protocolos sejam criados, a fim de evitar os mesmos erros naquela atividade, além de criar uma atmosfera rica em criatividade e produtividade.

O termo “segurança psicológica” surgiu com a pesquisadora, professora de liderança e gestão na Escola de Negócios de Harvard (Estados Unidos), Amy Edmondson na década de 90. Ela descreve o termo como sendo a "crença de que um membro de uma equipe não será punido ou humilhado por expor ideias, dúvidas, preocupações ou erros e que a equipe está segura para assumir riscos interpessoais, em um ambiente que permite que as pessoas sejam sinceras umas com as outras".

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O médico-veterinário curitibano Luiz Santos (Na foto), que atualmente mora em Glasgow, na Escócia (Reino Unido), e trabalha como professor de anestesiologia veterinária na Universidade de Glasgow, é também estudante de PhD (Doutorando) pela Universidade de Queensland, naAustrália e seu projeto é baseado na segurança psicológica em clínicas veterinárias.

O estudo começou com clínicas e hospitais veterinários na Austrália e a primeira parte do projeto teve como objetivo saber o que esses estabelecimentos fazem com relação à anestesia e segurança do paciente. “Foram feitos questionamentos sobre os cuidados com o paciente que será anestesiado como: exame físico realizado, Tipos de equipamento de monitoração anestésica, existência de equipamentos para ressuscitação cardiopulmonar, uso de usa bomba de infusão etc. Perguntas para saber o que se faz na rotina, pois o último levantamento desse tipo realizado no país foi na década de 90”.

Após isso, a pesquisa começou a avaliar se os erros são normalmente reportados e se são discutidos entre as pessoas da equipe ou se é tudo jogado para “debaixo do tapete”. “Falar sobre erros ainda é um tabu na medicina veterinária em qualquer lugar do mundo. Quando as pessoas cometem erros, elas escondem e internalizam com medo de serem demitidas ou julgadas”.

Protocolos de segurança surgem dos erros

Luiz esclarece que, por exemplo, se uma enfermeira não se sente confiante o suficiente para expressar seus erros ao executar uma tarefa específica e a necessidade de ajuda, isso pode levar a uma falha no aprendizado. Como resultado, há uma chance maior em se repetir o mesmo erro, e outros funcionários podem incorrer no mesmo equívoco. “Um exemplo disso é aviação, onde os profissionais são obrigados a reportar os erros e incidentes para que as possibilidades de erros sejam evitadas no futuro. Na medicina veterinária ainda estamos engatinhando nesse aspecto”.

A cultura de controle de qualidade ainda é um processo em início desenvolvimento na medicina veterinária e, de acordo com Luiz, isso acontece não só no Brasil, mas em vários países, como Estados Unidos e Austrália. “Se há um rigoroso controle de qualidade na indústria de alimentos, por que não há também em clínicas e hospitais veterinários? São processos que os estabelecimentos precisam desenvolver para que tudo ocorra de uma maneira segura e efetiva para o paciente e, consequentemente, para a equipe”.

Ao ter regras bem estabelecidas para seguir, o profissional se sente mais seguro. E ao se sentir mais seguro e com uma equipe de colegas e uma liderança que auxiliam ao invés de criticar ou julgar, o profissional fica mais à vontade para criar, ter mais ideias e ajuda a melhorar protocolos. “É isso que as grandes empresas como Google e Apple, por exemplo, oferecem e todos querem trabalhar nelas”, destaca Luiz.

A Google é reconhecida por proporcionar aos seus colaboradores um ambiente de trabalho que se destaca dos tradicionais, fundamentando-se em amplas pesquisas. Entre essas, destaca-se o Projeto Aristóteles, uma das investigações mais significativas sobre dinâmicas de equipe. Dentro dos pilares fundamentais  identificados para o sucesso do trabalho em equipe, a segurança psicológica emergiu como o elemento mais crucial.

Zona de aprendizado

Luiz ressalta que muitas pessoas confundem o conceito de segurança psicológica com lideranças boazinhas e que permitem tudo, e é preciso entender que liberdade não é ausência de responsabilidade. Por outro lado, Luiz afirma que, o excesso de pressão por resultados, associada à ausência de um ambiente seguro que permita falhas e aprendizagem, coloca a equipe na zona de ansiedade. “Precisa haver uma troca. Eu sempre falo aos meus alunos que o importante é que eles se sintam seguros para dizer que não sabem, mas ao mesmo tempo eu preciso ver o que eles estão se dedicando, indo atrás da informação e aprendendo”.

A pesquisadora americana Amy Edmondson destaca em suas apresentações e livros que ao se preocupar com a segurança psicológica da equipe é preciso tomar cuidado para não entrar na zona de conforto, normalmente gerada na tentativa de criar um ambiente seguro, ou na zona de ansiedade, gerada ao cobrar e pressionar demais seus funcionários, sem dar segurança psicológica. Ela utiliza os quadrantes (abaixo) para exemplificar os perigos da segurança psicológica que são encontradas em algumas das zonas. Segundo Amy, a zona da aprendizagem é a zona da alta performance, onde as pessoas encontram segurança psicológica e, ao mesmo, tempo se sentem impulsionadas e responsáveis pelo trabalho que lhes foi dado. Luiz avalia que muitos profissionais na medicina veterinária se encontram da zona de ansiedade, e isso tem que mudar através de lideranças mais humildes e que incluam os funcionários nas decisões do dia a dia.

Confira parte 2 no link: Segunda vítima

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julho 28, 2024
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